domingo, 3 de março de 2013

Faz um bom tempo que não escrevo,
a Tati vem me descrevendo muito bem.

Amores Impossíveis


"Desculpem o trocadilho infame, mas a vida é feita de altos e baixos. Altos, fortes, morenos, sensuais, possíveis e aquele baixinho, meio esquisito, que não sai da sua cabeça.
Impressionante como a gente sofre por nada. Um cheiro que mexe com você, um jeito de olhar contido, uma idéia inteligente, várias na verdade. Não, não é nada disso, a gente sofre é pela impossibilidade. 
Desde que o mundo é mundo não há nada mais afrodisíaco do que a proibição.
E se a Julieta tivesse visto o Romeu acordar com mau hálito? E se o Romeu descobrisse o chulé da Julieta? Convivência é foda.
Pois é, aquele baixinho esquisito não pertence ao grupo dos amores possíveis, a graça dele pode durar uma eternidade, dependendo do seu grau de estupidez criativa.
Ele não quer nada com você, já tem alguém, pertence a um caminho que passa longe do seu, sabe cumé? Pertence ao campo dos idealizados, sonhados e distantes, o que faz dele enorme, lá no pedestal.
E nada melhor do que as lacunas da improbabilidade para esquentar uma paixão. Nessas lacunas você tem espaço para criar a história como quiser, ganha poder, inventa. Ele é seu, seu personagem.
Nesses espaços livres você coloca todos os seus sonhos, toda a sua imaginação. Cenas completas com fundo musical e palavras certas, finais e desfechos inesperados.
Quando você menos espera, ele faz mais parte da sua vida do que você mesma.
Mas a realidade aparece mais cedo mais tarde, vem como uma angústia. Parece vontade de fazer xixi, mas é tesão reprimido. Tesão reprimido deve dar câncer. Era só um cara interessante, agora pode te matar.
Pronto, você está apaixonada. E a paixão tem suas etapas.
Primeiro a negação: eu apaixonada? Imagina. Ele é impossível, nunca vai me dar bola, muito menos duas com o que eu quero no meio.
Depois a maximização: ele é mais inteligente, mais bonito, mais engraçado. E todos os mais possíveis para que ele seja mais desafio para você, mais inveja para as suas amigas, se você aparecer com ele na festa, mais fadinhas dançantes para fazer cosquinha no seu ego problemático.
Daí é a vez da "superlativização": em vez de ser mais, ele é "o mais", o mais fodido, o mais inteligente e o mais gostoso.
E você está a um passo do endeusamento: "ele é único", aí fodeu.
Se ele é único, ele é a sua única chance de ser feliz. E, se ele não quer nada com você, você acaba de perder a sua única chance de ser feliz. Bem-vinda à depressão.
Como você é ridícula, amor platônico é para adolescentes.
Lá fora há milhares de possibilidades de felicidade, de felicidades possíveis. De realidade. E você eternamente trancada na porta que o mundo fechou na sua cara. Fazendo questão de questionar e atentar o inexistente. 
Vá viver um grande amor.
Olha, faça um favor para mim, antes de tremer as pernas pelo inconquistável e apagar as luzes do mundo por um único brilho falso, olhe dentro de você e pergunte: estupidez, masoquismo ou medo de viver de verdade?"

Tati Bernardi

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Tatuagem


Eu olho pra sua tatuagem e pro tamanho do seu braço e pros calos da sua mão e acho que vai dar tudo certo. Me encho de esperança e nada. Vem você e me trata tão bem. Estraga tudo. Mania de ser bom moço, coisa chata.
Eu nunca mais quero ouvir que você só tem olhos pra mim, ok? E nem o quanto você é bom filho. Muito menos o quanto você ama crianças. E trate de parar com essa mania horrível de largar seus amigos quando eu ligo. Colabora, pô. Tá tão fácil me ganhar, basta fazer tudo pra me perder.
E lá vem ele dizer que meu cabelo sujo tem cheiro bom. E que já que eu não liguei e não atendi, ele foi dormir. E que segurar minha mão já basta. E que ele quer conhecer minha mãe. E que viajar sem mim é um final de semana nulo. E que tudo bem se eu só quiser ficar lendo e não abrir a boca.
Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. Olha que desgraça. O moço quer me fazer feliz. E acabar com a maravilhosa sensação de ser miserável. E tirar de mim a única coisa que sei fazer direito nessa vida que é sofrer. Anos de aprimoramento e ele quer mudar todo o esquema. O moço quer me fazer feliz. Veja se pode.
Não dá, assim não dá. Deveria ter cadeia pra esse tipo de elemento daninho. Pior é que vicia. Não é que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu não deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada. Veja se pode. Anos nos servindo de capacho, feliz da vida, e aí chega um desavisado com a coxa mais incrível do país e muda tudo. Até assoviando eu tô agora. Que desgraça.
Ontem quase, quase, quase ele me tratou mal. Foi por muito pouco. Eu senti que a coisa tava vindo. Cruzei os dedos. Cheguei a implorar ao acaso. Vai, meu filho. Só um pouquinho. Me xinga, vai. Me dá uma apertada mais forte no braço. Fala de outra mulher. Atende algum amigo retardado bem na hora que eu tava falando dos meus medos. Manda eu calar a boca. Sei lá. Faz alguma coisa homem!
E era piada. Era piadinha. Ele fez que tava bravo. E acabou. Já veio com o papo chato de que me ama e começou a melação de novo. Eita homem pra me beijar. Coisa chata.
Minha mãe deveria me prender em casa, me proteger, sei lá. Onde já se viu andar com um homem desses. O homem me busca todas as vezes, me espera na porta, abre a porta do carro. Isso quando não me suspende no ar e fala 456 elogios em menos de cinco segundos. Pra piorar, ele ainda tem o pior dos defeitos da humanidade: ele esqueceu a ex namorada. Depois de trinta anos me relacionando só com homens obcecados por amores antigos, agora me aparece um obcecado por mim que nem lembra direito o nome da ex. Fala se tão de sacanagem comigo ou não? Como é que eu vou sofrer numa situação dessas? Como? Me diz?
Durmo que é uma maravilha. A pele está incrível. A fome voltou. A vida tá de uma chatice ímpar. Alguém pode, por favor, me ajudar? Existe terapia pra tentar ser infeliz? Outro dia até me belisquei pra sofrer um pouquinho. Mas o desgraçado correu pra assoprar e dar beijinho.”

Tati Bernardi

Falta de tempo

Existe um único antídoto para a falta de tempo. Um único.
Estar apaixonado.
Esquecer de si para inventar o desejo.
O desejo transforma-se no próprio tempo.
Tudo é adiado.
Fabrício Carpinejar

sábado, 22 de dezembro de 2012


“Queria poder ler pra você, cara a cara, todas as coisas que eu escrevi, pra você, de você, com você. Mas não, prefiro deixar isso entre eu e o papel.”

(Capitulei

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012


"Já te quis muito. “Muito” é o advérbio de intensidade que melhor se encaixa aqui. Não foi exageradamente e nem pouco: apenas muito. Hoje, eu posso te ver de outro ângulo, mais de cima, talvez. Mais igual, sei lá. Eu posso te ver com a normalidade que você tem, e isso não é ruim, somos todos normais ao fim das contas, mas é que eu tenho sempre a mania romanticamente boba de ver mais do que as coisas (pessoas) realmente são e é isso que me estraga lá na frente. E eu pensava nas minhas noites ridículas com a janela aberta em fazer por ti aquelas coisas que a gente não deve fazer para qualquer um, sem saber na minha ingenuidade que você nunca iria além. Eu te quis muito sem que você pudesse ver, ou via e desviava, ou desviava mesmo sem ver. Longe sempre foi o lugar onde te encontrei. Olha, eu não me apaixonei e isso não é triste, nenhum pouco triste. Eu quis, muito. Não te amei, prefiro não ter te amado, agradeço por não ter te amado. Você sabe que nunca sabe de nada e também não saberia de mim. Fecha os olhos agora, deixe para lá, num canto ou no passado. Você não me ama e nem me quer muito como eu te quis. Você apenas descobriu que eu já te quis e não quero mais. Poderíamos ter sido amor. Somos melhores nunca tendo sido."


 (Camila Costa)